quarta-feira, 5 de agosto de 2009

FELIZ DIA DOS PAIS ... FELIZ DIA DO QUÊ?


Hoje numa conversa entre colegas de trabalho, dei-me conta de que estamos próximos a comemoração do Dia dos Pais. Meu colega de trabalho mais próximo é apaixonado pelo o pai. É a figura de um herói, bem sucedido profissionalmente, como uma família tipo modelo comercial completa. É o camarada que além de bancar suas despesas pessoais, lhe fornece condições para curtir com a mulherada com o carrão e sítio da família, tudo com o aval do pai - lógico que escondendo tal camaradagem da esposa. Afinal, pai e filho héteros amigos são parceiros na metelança do filho, ainda não casado, mas que namora uma pirralha virgem de 18 aninhos ... repetiçao da história do pai, construção e reprodução de estigmas, de modelos padrões de heterossexualidade "sadia" e aceita, por meio de vistas grossas, pela sociedade no geral.

Mas não é para falar de meu colega de trabalho e de seu relacionamento com o seu pai que posto neste momento. Quero falar de uma questão que me veio à mente depois do expediente com a conversa em grupo sobre comemoração do dias dos pais, presentes, gostos e admirações. A pergunta é: até qual ponto a ausência de um pai - mesmo que no modelo padrão de pai, como tem meu colega - afeta a sexualidade de um filho? Até onde a sexualidade de um filho pode se desenvolver por este ter um pai que não representa em sua infância a figura paterna, responsável pela formação integral de seu filho, responsável pela formação do caráter e de gostos - inclusive o sexual (pois compartilho do entendimeno que somos também fruto do que vivemos)?

Acho que todo gay durante seu processo de auto-conhecimento e aceitação da sua diferente (em relação aos padrões sociais) sexualidade já leu ou ouviu muito sobre a possibilidade da ausência do pai, ou sua figura apagada em relação ao comando pela figura materna na família, poder interferir e explicar tal situação. Essa duvida repercute há séculos, creio, e continuará existindo, alguns apoiados na concepção psicológica do mau desenvolvimento do caráter da criança, o que proporciona o chamado "Complexo de Édipo".

Apesar de não ser infelizmente especialista na psicologia, ao estudar tal matéria nos dois cursos superiores que fiz (um concluído e outro não), pude me aprofundar nesta temática em algumas oportunidades. Segundo a psicologia, no desenvolvimento do clico da vida, na terceira fase que compreende a idade de 4 a 6 anos, denominada fase fálica, as crianças passam por um conflito entre a iniciativa e culpa, pois começam a compreender de determinados atos são inaceitavéis perante os adultos, e ao cometê-los, com a repreensão desenvolvida pelos genitores,a presença da culpa inibe o desenvolvimento de seus atos, que ate então eram 'naturais' em crianças, que por serem inocentes, não sabem o fazem.

Nesta mesma fase fálica, as crianças descobrem seus genitais, o libido começasse a desenvolver. Nesta idade que é o menino descobre que o que tem no meio das pernas é o pilau, piupiu, pintinho, e a menina pererequinha (abre parêntese ... Nunca vi uma mãe falar ao filho de 4 a 6 anos que ele tem um pênis e a uma filha que ela tem vagina ou buceta ... fecha parêntese). É nessa fase que recomenda-se que os pais, muitos na ignorância científica, parem de tomar banhos com seus filhos, pois as comparações irão começar a existir, afinal de contas, o pilau do pai é enorme e o dele, coitado, vergonhoso, a perereca da mãe é aquele matagal onde sai xixi... e nesta fase pode se desenvolver o complexo de Édipo, onde os primeiros sintomas de atração sexual será pelo genitor de sexo oposto. Ao querer despertar (e isto tudo inconscientemente para a criança, refletindo posteriormente na sua sexualidade)e dominar a atenção do genitor(a) do sexo oposto, encontrará na outra figura genitor(a), em sua mente, uma oposição. Ao querer imitar o genitor(a) do sexo oposto, desejará ter atenção também desta pessoa -que é do mesmo sexo que a criança -, pois a vê cariciando o outro(a) genitor(a), dando-lhe beijo e até mesmo metendo - isso no caso dos pais que trepam sem trancar a porta do quarto... ai quando menos se espara, tchannnnnnnn.




Édipo para quem não sabe, e como o Marcinho Bartimeu também é cultura, é uma personagem da cultura grega. Famoso por matar o pai e casar-se com a própria mãe. Filho de Laio e de Jocasta, pai de Etéocles, Ismênia, Antígona e de Polinice. Segundo a lenda grega, Laio o rei de Tebas havia sido alertado pelo Oráculo de Delfos que uma maldição iria se concretizar: Seu próprio filho o mataria e que este filho se casaria com a própria mãe. Por tal motivo, ao nascer Édipo, Laio abandonou-o no monte Citerão pregando um prego em cada pé para tentar matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um pastor e batizado como Edipodos, o de "pés-furados", que foi adotado depois pelo rei de Corinto e voltou a Delfos. No caminho, Édipo encontrou um homem e, sem saber que era o seu pai, brigou com ele e o matou, pois, Laio o mandou sair de sua frente. Após derrotar a Esfinge que aterrorizava Tebas, que lançara um desafio ("Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?"), Édipo conseguiu desvendar, dizendo que era o homem. "O amanhecer é a criança engatinhando, entardecer é a fase adulta, que usamos ambas as pernas, e o anoitecer é a velhice quando se usa a bengala". Conseguindo derrotar o monstro ele seguiu à sua cidade natural e casou-se, "por acaso", (já que ele pensava que aqueles que o haviam criado eram seus pais biológicos) com sua mãe, com quem teve quatro filhos. Aquando da consulta do oráculo, por ocasião de uma peste, Jocasta e Édipo descobrem que são mãe e filho, ela comete suicídio e ele fura os próprios olhos por ter estado cego e não ter reconhecido a própria mãe. Após sair do palácio, Édipo é avisado pelo Corifeu que não é mais rei de Tebas; Creonte ocupara o trono, desde então. Édipo pede para ser exilado, mandado embora. Pede, ainda, para que Creonte cuide das suas duas filhas como se fossem suas próprias.

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Voltando a finalidade de começar a falar disto tudo, pude repensar em toda a minha experiência neste sentido. Para não perder nenhum detalhe que interfira na compreensão passo a escrever na terceira pessoa.

O Marcinho, caro leitor, é o caçula de três irmãos. Antes de nascer - e somente há poucos anos soube disto - seus pais já não viviam muito bem. Disfarçados ou amparados numa ajuda divina, sabe-se lá, viviam na tentativa de tentar demonstrar para a sociedade ser um casal de evangelicos comprometimentos com suas crenças religiosas, mas que dentro de casa vivem numa eterna briga, onde a mãe, numa tentativa de sobrevivencia pessoal e de sua cria, com a imposição da voz e da sua postura, tentava barrar as puladas de cerca do pai. O Marcinho com três meses de idade sofreu reflexos da saída do pai de casa após brigar com sua mãe por esta descobrir que o pai de Marcinho lhe traía, tinha uma amante. A mesma aliás, que três anos depois, numa segunda tentativa de reconciliação, a mãe de Marcinho descobriu e foi tirar satisfação na porta de sua casa.

Na verdade leitor, o pai de Marcinho, infelizmente, nunca valeu nada. Um homossexual que tentou, o que era comum àquela época, viver um casamento de fachada, para poder fazer filhos e ter suas escapaledas contínuas. Na verdade, na verdade, o pai de Marcinho era um ser atraído pelo sexo, seja com homem ou com mulher, com 'santas' ou com 'putas' como eram suas amantes, que Marcinho as conheceu aos onze anos como irmãs da igreja, mulheres de intercessão... quanta inocência!

A imagem mais remota que Marcinho tem de seu pai é que ainda na fase fálica tomava banhos com o pai, e ele, algumas vezes - hoje Marcinho entende - ficava com o pau duro. Marcinho tocava o pau duro de seu pai, na inocência. Marcinho não se lembra se praticou sexo oral com o pai, alias, tem quase certeza que não. Mas Marcinho lembra já na puberdade de encontrar varias vezes seu pai se masturbando no banho, vendo putaria na televisão, e também se lembra que ao pedir que seus pais se beijassem ao ver o pai sair para trabalhar, que o selinho dado tinha algo de errado, numa sensação, hoje compreendida, de nojo, ressentimento entre seus pais, que para não magoar o filho e fazê-lo calá-lo, beijavam-se com um selinho artificial.

Marcinho lembra de ver a figura, outrora oponente da mãe na tentativa de desenvolver algo positivo em seus filhos que encaminhou nos 'caminhos em que deve andar, para que ao envelhecer, não se desviará dele", se transformar no decorrer dos tempos em uma mulher infeliz, frustada sexualmente (apesar de feliz com seus três filhos) e socialmente, pois sabia que o casamento elogiado por muitos era mera fachada, e mais depressiva e doente, desprezada pelo marido e pai de Marcinho, incapaz de lhe fornecer até seus medicamentos.

No final desta fase, Marcinho já tinha seus 17 anos e com seus irmãos, cansados de verem o estado de sua mãe, que por anos aguentou calada as humilhações do cafajeste de seu marido, resolveu juntamente com seus irmãos colocar um fim naquele relacionamento. O pau quebrou. A casa caiu. Moral da história: Marcinho ficou com sua mão quebrada pela agressão sofrida pelo próprio pai, que resolveu sair de casa e para lá nunca mais voltou. A liberdade, comemorada tal qual a aforria para os negros no fim da escravatura estava selada. Pobres, com o resto que lhes sobraram, aliaram-se a fé e ao apoio dos demais familiares para prosseguir a vida. De lá pra cá, Marcinho pode finalmente começar a desenvolver sua sexualidade, sua primeira experiência sexual foi com um primo, isto mesmo, homem... nunca mais aconteceu. Mas ali, os desejos sexuais despertados pelo proprio pai durante anos se concretizaram.... Passados anos, somente em 2008, longe de casa sua vida sexual se intensificou, sendo a primeira experiência a do Shopping Del Rey, contada na primeira postagem deste blog.

Marcinho na verdade nunca vivenciou o relacionamento sadio de pai e filho. Marcinho tem pai vivo até hoje, sabe onde mora o infeliz, mas não tem e não quer se relacionar com ele. Suas cicatrizes de alma são maiores do que mesmo sua racionalidade, que hora ou outra, relembra a importância do perdão, da segunda chance aprendida nos bancos da igreja, da escola e da própria vida. O medo de se ferir, se decepcionar novamente o impede até mesmo de desenvolver essa vontade de tentar novamente se relacionar com seu pai.

Neste contexto, a figura da mãe - e por analogia da mulher em geral - se tornou santa, intocável, razao pela qual Marcinho não consegue hoje se sentir atraido, ter ereção por mulheres. A unica que tentou foi com uma puta juntamente com outro homem, um colega de putaria em duvida na sua sexualidade. Ao ver o pau do colega duro, o pau de Marcinho endurecia e conseguia enfiar na buceta da maldita, mas logo que enfiava lembrava da imagem do pai sobre a mesma mae que o via maltratar quando pequeno e sua ereção acabava. Depois desta tentativa de súplicio, Marcinho erimiu suas dúvidas e acabou de se aceitar sexualmente como gay. A mãe é a sua guardiã, a figura que hoje representa a possibilidade de continuar vivendo pois esta utilizou suas forças para manter o mínimo de compostura para ter o que dar de comer aos seus filhos, haja vista que na década de 80 as mulheres, em sua maioria, dependiam economicamente de seus maridos, e estes mantinham suas putas e putos, de conhecimento de suas esposas, fadadas ao silêncio para sobreviverem por não quererem se separar e virarem chacotas da sociedade preconceituosa das décadas passadas.

O sexo, às vezes, produz em Marcinho a sensação de nojo, de estar, de certa forma, repetindo a história de promiscuidade de seu cafajeste pai. Só não é completa porque Marcinho decidiu não se casar, fazer da filha de alguém a repetição de sofrimento da história de sua mãe, e fazer da historia de vida de seus filhos a sua própria história de vida, repetindo historicos familiares - porque o pai do pai de Marcinho também não valia nada, e a uma hora dessas deve tá ardente com o diabo que já o levou faz tempo.

Mas o sexo com amor ainda não foi por completo vivido por Marcinho. Sua busca de alguém do mesmo sexo para construir uma grande história de companheirismo e amor têm se tornado útopica, distante, fria. Marcinho precisa ter essa experiência. Tomara que consiga!

Aproximando-se do Dia dos Pais, Marcinho não tem o que comemorar. A figura de um pai amoroso, companheiro, camarada, sustentador e iluminador de caminhos, abridor de alternativas foi pela vida violada. Mais uma violação da vida triste de Marcinho que por tempos viveu aos pés dos púlpitos do cristo de madeiras de igrejas evangélicas, mas como diz a música da Ana Carolina, ele "não lhe dizia nada", mesmo quando "ele orava, ele orava". O apoio e o conhecimento da filosofia e da psicologia, aliado à prática do campo jurídico e administrativo onde atua tem o ajudado a se libertar da também violência da ignorância e da imposição da lei religiosa, e, quem sabe um dia desperte em Marcinho uma nova visão desta sua história de vida, sobretudo no que tange a seu não relacionamento com a figura paterna.

Feliz Dia dos Pais. Feliz Dia do quê?

Abaixo uma montagem em comemoração à dada com a música chefe deste período do ano: Pai Herói, de Fábio Júnior. Música que Marcinho desde pequeno ao ouvir sabia que não lhe traria nada além de lágrimas, tal qual trouxe-lhe neste instante. Lágrimas porque a vida, ingrata, lhe trouxe uma experiência negativa em relação ao pai, e que, de certa forma, o influenciou na decisão de aceitar sua sexualidade desenvolvida num contexto contencioso, onde as figuras ao fugirem do padrão fez-o fugir do padrão da sexualidade, tornando-se homossexual.





Quem tem um pai contrário ao meu, comemore, pois a vida, ao te fecundar, já lhe sorriu.

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