segunda-feira, 27 de abril de 2009

FALANDO SOBRE FÉ


Como todo mineiro que se preze fui criado num contexto bastante religioso. Desde a tenra infância em minha memória há fleches da criação em uma igreja evangélica histórica, que se baseia em dogmas e tradições bastante rígidas, onde a possibilidade da diversidade sexual não é contemplada e muito menos aceita como normal. No processo de desenvolvimento infanto-juvenil, mesmo que de forma ofuscada, a cada dia pude perceber que algo diferente em mim existia. Meu interesse, mesmo que puro, em razão da idade, não era pelas meninas – aliás, estas sempre foram minhas melhores companhias, mesmo no contexto religioso – e sim pelos coleguinhas de turma, pelos meninos. O interesse em conhecer o corpo humano masculino prevalecia sobre o interesse em relação ao feminino, e com o passar do tempo as coisas foram ficando claras.

Na adolescência o envolvimento com as atividades religiosas, como acampamentos, uniões de adolescentes e jovens, estudos bíblicos, participação no louvor e em ações de evangelismo fizeram-me àquela época, inconscientemente, negar-me a homossexualidade. Isto se deu até aos vinte e três anos, quando no intuito de ‘curar-me’ dos meus desejos pecaminosos, adentrei-me num seminário, repleto de idealizações pessoais como casar-me, estabelecer uma família feliz, que no futuro, seria realizado profissionalmente na condução de alguma congregação cristã. Tudo muito perfeito, entretanto, não para mim!

Longe de casa, do contexto em que fui criado, na cidade grande, lutei contra estes desejos com muita oração, leitura do livro base do cristianismo, e estudos teológicos. Não obstante, num momento de descuido vivenciei pela primeira vez minha relação física com alguém do mesmo sexo que eu. Na postagem Entre a Cruz e a Espada, a primeira deste blog relato como se deu essa primeira experiência.

Após esta primeira experiência, passei para a fase de pegação. Conheci o mundo sub-humano dos banheiros públicos de shoppings, teatros, galerias e outros lugares públicos. Ali aprendi a ser chupado, a chupar, a penetrar, a masturbar a dois, a três e até a oito. A libido entrava em êxtase sempre com a possibilidade de ser pego em flagrante por seguranças. Daí para cinemas, saunas e clubes gays foi um pulo. Passei por esta fase, e hoje vejo a importância, para mim, ter passado por isto tudo. Já não faço mais isso. Consegui superar esta fase. Acompanhado a tudo isto experimentei a pior fase da depressão, da síndrome do pânico e as inúmeras tentativas frustradas de suicídio – na verdade faltava-me coragem na hora H. Tive inúmeros amantes, alguns ótimos, outros legais e vários frustrantes, que com o prolongar do tempo me fez muito mal. Às vezes parecia um prostituto. Esta era a minha sensação, mesmo nunca tendo feito sexo por dinheiro. Enfim, após tudo isto, minha família percebendo que algo de errado estava acontecendo, apoiou-me na volta para casa, para minha cidade, sem perguntar-me o que de fato ocorra, a ponto de eu emagrecer mais de 25 quilos em 3 meses. Sabem que eu estava (e ainda estou em tratamento psicológico) em depressão.

Não aconselho a ninguém passar por tudo isto para aceitar sua condição sexual, sua essência, sua verdade, enquanto ser humano que possui uma sexualidade. Para mim, apesar de eu ter pagado um preço altíssimo, valeu a pena a experiência de afastar-me do contexto religioso em que fui criado, bem como de minha família. Essa fase deu-me a plena certeza de quem eu sou sexualmente falando.

Voltando para casa e continuando cristão – é uma opção de fé, porque creio que racionalmente seria agnóstico ou ateu – vejo que na antiga igreja que frequentava, de denominação histórica, já não há espaço para mim. Não me sinto bem nela, nem quero mais continuar a freqüentá-la. Com isto, neste ultimo semestre comecei a freqüentar uma comunidade pentecostal mais elitizada, formada por um publico seleto das classes A e B, que, por conseguinte, é mais liberal em alguns temas em relação a comportamentos sociais. Na verdade, quase todos já sofreram em outras experiências religiosas com o legalismo existente em igrejas evangélicas históricas, como a proibição de namorar, de cortar cabelo, do modo de vestir, de lugares onde não se pode ir, do que ouvir e não ouvir, do comer e não comer, e tantos outros podem e não podem.

Tudo estava muito bem até que ontem o querido pastor – gosto muito dele, é um ex viciado em drogas e bebida alcoólica, hoje livre do vicio, de família importante politicamente da cidade, empresário e que, portanto, não depende da igreja financeiramente para viver – resolveu pregar sobre o texto paulino de 1° Coríntios 6, onde o apóstolo elenca os ‘rótulos’ que não herdarão o reino dos céus: “os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus”.

Em meio a tanta gente ruim lá eu me enquadrei. Na versão do pastor na parte ‘nem homossexuais passivos (efeminados) nem ativos (sodomitas)’. Concluindo sobre este segmento que não herdará o reino dos céus, disse: ‘se você está na prática da homossexualidade você não irá para céu’.

Aquilo bateu fundo. Já conhecia o texto onde Paulo relata sobre a promiscuidade e coloca homossexuais no mesmo patamar dos idolatras, adúlteros, ladrões, avarentos e etc. O que me deixou desconfortado, e mesmo decepcionado, é que sinceramente, pensava eu na minha inocência, que esta legalidade estava superada naquela comunidade especificamente falando, tão liberal em vários pontos, que procura viver experimentando a graça de Deus acima de nossas falhas.

Disto tudo aprendi que infelizmente as igrejas cristas – evangélicas ou católicas, históricas ou contemporâneas – com raríssimas exceções, não estão preparadas para receber pessoas como eu, que comprovadamente vivenciaram experiências ao ponto de dá-las certeza plena que são homossexuais desde que nasceram, que não se trata de uma opção. Para ser sincero, não gostaria de sê-lo, em razão da dificuldade, principalmente interna de ser. Isto sem falar dos reflexos sociais, haja vista o modo de percepção das pessoas, que, mesmo publicamente agindo politicamente corretas, no apagar das luzes, são preconceituosas, homofóbicas.

Aprendi também que não devo iludir-me esperando encontrar uma comunidade de fé onde serei aceito como sou, por completo. Igrejas – depois de ter passado um ano dentro de um seminário denominacional, tenho essa concepção – são instituições sociais, que se enquadram no contexto social em que vivem e com ele aderem os dogmas preconceituosos existentes. Será muito boa vontade minha ouvir algo diferente do que ouvi neste fim de semana numa igreja. Preciso é saber como me comportar e até que ponto freqüentá-la me fará bem.

Creio em Deus, em Jesus Cristo, na sua graça salvífica. Sinto seu amor, seu cuidado para comigo. São princípios de fé, que hoje mais do que nunca, optei por tê-los. E sinceramente que isto vai muito além da condição sexual que possuo. Ele sabia – porque creio na sua onisciência – que eu nasceria assim, e mesmo assim permitiu-me ter vida. Soube das minhas suplicas do passado, movidas com muito choro, pedindo pela ‘cura’ deste sentimento, e mesmo assim continuo como sou, sentindo o que sinto. E sinceramente, se no final das contas, eu realmente não ir para céu por causa disto é porque minha concepção de Deus, de Pai amoroso é utópica, e que minha razão deu lugar a uma fé, aqui na terra, que não merecia tal crédito. Deus seria, nessa concepção, omisso e responsável por criar um ser homossexual para no final de sua vida terrena destinar-lhe ao inferno por isso. Não pedi para nascer gay, se nasci assim, Ele sabe e foi o responsável.

Seria muito mais fácil ser ateu para vivenciar a homossexualidade, ou mesmo espírita. Respeito tais posicionamentos, mas não consigo crer e optar por estas crenças. Creio assim no cristianismo, creio na existência de Deus, na vida de Jesus Cristo como relatada na Bíblia. Entretanto, as ‘mal ditas’ palavras paulinas trouxeram, neste aspecto, resultados negativos, que atravessando o tempo, afeta espiritual e mentalmente muitos cristãos como eu, que vivem o dilema entre seus ensinamentos – os de Paulo – e a vivencia da fé cristã.

No fundo creio que Paulo, dentro do seu contexto político, acadêmico, histórico e familiar, sentia atrações sexuais por outros homens. Creio fazendo uma leitura ampla deste capitulo. Paulo falando de si mesmo, de seus defeitos, resolveu abster-se de suas ‘falhas’ humanas, após elencar tais rótulos, pois foi sucinto no versículo 12 ao afirmar: ‘Todas {as coisas} me são lícitas, mas nem todas {as coisas convêm;} todas {as coisas} me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.

Paulo não se deixou dominar por sua natureza humana, e pretendeu estabelecê-la como padrão para as comunidades cristãs daquela época. De lá para cá apenas há reproduções do mesmo pensamento, já pré-estabelecido, determinado, formatalizado. Quem não se enquadra aos padrões paulinos – e segundo este – não irá adentrar aos céus.

Sinceramente, prefiro desprezar Paulo com seus ensinamentos, e ficar com o amor de Jesus Cristo ao ponto de se entregar por mim, e com a graça de Deus, superabundante, muito mais do que mereço, que excede todo e qualquer entendimento, superior a questões meramente humanas.

Falar de fé: tão complicado, mas para mim essencial, porque eu sou metade racional, metade espiritual, da mesma forma como sou quem sou sexualmente.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ESTOU BEM SOZINHO

Isso mesmo que você leu no título da postagem. Eu consigo me sentir bem sozinho, mesmo tendo chegado ao ápice de um relacionamento amoroso/sexual com outra pessoa do mesmo sexo.

Na última postagem falei sobre meu namorado. O primeiro. O Junior (e este não é seu nome verdadeiro) é uma pessoa bacana. Gostei dele, da forma como nos conhecemos, do processo de aceitação, de carinho, afeto e de amor. Não obstante, algo em mim e nele também, porque fora recíproca, deu-nos a sensação de fim, ou de no mínimo, de pausa. Eu sabia que depois de ter vivido essas vinte e quatro horas haveria uma separação entre nos dois. Na realidade, eu pressenti isto. Somos muito diferentes, com histórias de vidas e níveis sociais diferentes - e, com essa primeira experiência pessoal de namoro, aprendi que estes fatores são totalmente relevante -, com projeções profissionais e ambições pessoais diferentes. Universos tão diferentes a ponto do sentimento que vivenciamos não ser capaz, pelo menos por ora, de ultrapassá-los.

Não vou ficar chorando o leite derramado. Prefiro continuar a vida. Minha fase depressiva foi no processo de auto-aceitação da homossexualidade. Fase superada. Superadíssima aliás. Creio que, modéstia parte, sou um rapaz bacana, vindo de uma formação familiar estruturada, que respeite o próximo e a diversidades de pensamentos e posicionamentos, sei que sou bonito (não lindo, mas interessante). Sei que não irei ficar. Mas mesmo que fique, eu estou bem sozinho!

Não estou só. Tenho amigos queridos. Tenho como a experiência de ter amado pela primeira vez um homem a ponto de cometer loucuras para passar um dia completo ao seu lado. Tenho a maldade necessária para não deixar ferir-me o coração com desilusões e vagabundos de plantão. Tenho a certeza de que se encontrar alguém que me ame de verdade, e que valha a pena investir tempo e recursos, vou viver tudo novamente e agora melhorado, porque a prática traz a qualidade, a excelência.
Nesses dias tenho me dedico ao trabalho, aos relacionamentos sociais que independem de sexualidade, aos meus livros e a possibilidade de um mestrado ou a aprovação em concursos públicos, a mim mesmo. Estou feliz, pleno, comigo mesmo!

Como canta o excitado negro, de voz meloso e deliciosa Vander Lee, "estou podando meu jardim, estou cuidando bem de mim"!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

VINTE E QUATRO HORAS INESQUECÍVEIS

Eu conversava com o Junior (não vou colocar aqui seu nome verdadeiro ou apelido – isso só interessa a mim) no MSN desde janeiro. Não sei ao certo, mas acho que o encontrei no bate papo da minha cidade, da época em que saia às caças. Nunca conseguíamos nos encontrar. Ao saber que ele mora no outro lado da cidade a probabilidade de nos encontrarmos ficou reduzida à zero. Após muitas conversas, vários ‘nãos’ da minha parte, várias discussões, pedidos para que nos bloqueássemos mutuamente, resolvi encontrar aquele que por meses conversava, me sentia atraído, mas não dava o braço a torcer.

Nos encontramos na sorveteria. No horário marcado lá estava eu esperando-o. Ao vê-lo, ainda de longE, não pude acreditar. Um deus grego se aproximava de mim. Com seus 1,75 bem distribuídos num corpo negro, escultural, com um sorriso escondido num rosto com cabeça raspada, percebemos logo de cara que a ‘química’ aconteceu. Ao perguntá-lo o que iríamos fazer ele foi direto: ‘eu quero você e não sorvete’. Fechado! O sorvete, não tomamos. Fomos direto para um local onde pudemos ficar a sós. Lá conversamos sobre nossa experiência de convivência apenas via internet e da intenção dele que era ter a minha amizade. Saímos daquele local com o compromisso de namoro firmado, tudo acertado sobre diversos aspectos como encontros, telefonemas, discrição, etc.

Durante a semana trocamos vários torpedos, mensagens e telefonemas. Juras de amor, de fidelidade, de compromisso, da certeza de que juntos poderíamos acrescentar felicidade um na vida do outro. Aproveitamos que hoje (sexta-feira) é um feriado e combinamos de irmos pra um hotel no centro de nossa cidade ao meio-dia da quinta-feira. E foi o que fizemos.

Vivi pela primeira vez na vida a experiência de ser totalmente do meu amado por vinte horas diretas. Algo intenso, marcante, inesquecível. Rodeados de muito chocolate (surpreendentemente ambos levamos chocolates um para o outro, tudo nada combinado). Eram bombons, batons, barras de chocolates devorados e muito, muitos beijo, amor, paixão, sexo vivenciado. Dormir abraçadinho com meu namorado, tomar café da manhã com ele, sentir seu corpo junto ao meu durante a noite, no banho, andar de mãos dadas. Tudo perfeito. Pena que as vinte e quatro horas passaram rápido demais. Ele se foi e eu também parti.

A vida continua com cada um no seu destino. Mandei uma mensagem, agradecendo todo seu amor, carinho, respeito. To aguardando retorno. Namorar me faz muito bem! Essa experiência, inesquecível!

sábado, 4 de abril de 2009

HOJE ESTOU AMANDO!


Aconteceu. Perfeito. Como o botão de uma rosa vermelha que desabrocha para exalar aroma, beleza e vitalidade. Botão que se transforma em rosa, mas que mantém intrínseca sua essÊncia, sua estrutura tão linda, mas ao mesmo tempo, frágil e insegura.

Quanto tempo esta agora rosa se manterá viva, esplendida, radiante, exalante, não consigo determinar com exatidão. Mas os sentimentos que fizeram esta rosa despontar é um misto de temor e de vontade, de receio e de pretensões, de excitação e de sentimentos. Estes últimos tão antagônicos, angustiantes, haja vista ora se apresentarem arredios, ora complacentes. Todos intensos, profundos, marcantes, inesquecíveis.

Um jardim bem feito, bem podado é o caminho para a felicidade nos braços de um amor. Modéstia parte, o que tenho feito bem perfeitamente nos últimos meses é isto: estou cuidando bem de mim. Como preleciona o poeta, o segredo não é correr atrás das borboletas. Pelo contrário, é cuidar bem do seu jardim para que elas venham até ao seu encontro.

E a minha borboleta chegou. Forte, excitante, exalante, impregnando em mim a beleza do desabrochar de uma rosa, que outrora inocente e insolente tão como são todos os botões, demonstrando que o amor pode acontecer quando ocorre o encontro perfeito de sentimentos e vontades.

Como são todas as primeiras vezes, hoje estou amando!